Mais uma vez adio a postagem sobre Convenções Sociais, desta vez por uma causa que não vou me atrever a chamar de boa, mas porque quero tirar essas palavras da língua e dos dedos e colocá-las aqui. Recentemente fiquei sabendo do tal viral que tem circulado a net intitulado "Os 10 Mandamentos do Rei do Camarote", que gerou uma verdadeira comoção por parte de muita gente reclamando da ostentação do cara e etc.. De fato, em um país como o Brasil, ostentar muito e mostrar que gasta isso tudo numa única noite com lazer é uma coisa trágica por um lado, já que muita gente não ganhará em anos o que um cidadão deste gasta em um único dia, mas há seus poréns!
Muitas destas pessoas que reclamaram, xingaram e fizeram a caveira do tal "Alexander" o fizeram, como o próprio diz no vídeo, por inveja, afinal, em um país como o nosso, muitos gostariam de estar no lugar dele, talvez não ostentando, mas gastando rios de dinheiro despreocupadamente, muitos até só para chamar atenção e, quando questionados sobre, provavelmente diriam:"É meu dinheiro, faço com ele o que quiser!". Bem típico, certamente, então porque reclamar do cara do vídeo? Já que o que ele faz é tão terrível, porque não crucificar todas as pessoas que fazem isso pelo país, afinal existem centenas, para não dizer milhares de "Alexanders" espalhados pelo Brasil, mas muitos teimam em só focar a atenção em um único ponto e só quando algo como esse vídeo vem à tona.
Irei elencar alguns pontos para exemplificar o que estou escrevendo, apesar de acreditar que o anterior já tenha dito muita coisa. Partindo de uma base simples, porém cotidiana, e seguindo uma linha ascendente de exemplos podemos citar:
- Um assalariado que, ao receber seu dinheiro, que mal serve para mantê-lo e à sua família, sai para um "happy hour" com os amigos, colegas e desconhecidos e sai pagando bebidas para todos ou comprando coisas à toa (como no caso do bêbado rico, que gasta às cegas enquanto bêbado e no final do mês vê a conta). Mas o dinheiro é dele, o problema é dele, ele esbanja, mas isso não é um problema nosso, afinal os afetados são ele e a família dele, e mais ninguém;

- Um "filhinho de papai" que ganha mesada grande e sai pra bares e restaurantes caros, anda no carro do pai ou da mãe, mostra coisas que na realidade não tem para gente que ele não gosta para mostrar algo que não é. Mas isso é problema nosso? Acho que não, ele só está esbanjando um dinheiro que não é dele, como todo bom patrício...;
- Um bem nascido que, apesar de não trabalhar, dispõe do cartão dos pais, um carro "próprio" comprado por estes, e que gosta de curtir a vida sem se preocupar com o futuro, apesar de estudar em uma faculdade cara. Ele esbanja, gasta o dinheiro do pai/mãe rico(a) como se fosse o dele, ou mesmo mostrando que não é dele. Mas isso ainda não é problema nosso, afinal vivemos sob a sombra do capitalismo, isso é normal.;
- Um empresário ou autônomo mediano que ralou para conseguir o que possui, seja com esforço próprio, seja explorando o trabalho alheio e enriquecendo com isso, esse pode dizer que lutou pra conseguir esbanjar. Não? Bom, o problema é dele se gasta muito ou não, a empresa/capacidade é dele, quem juntou a grana foi ele, nada mais justo do que torrar um dinheiro a mais com bebida, status e mulheres numa noitada.;
- O "Funk Ostentação", que faz a mesma coisa que o "Rei do Camarote", sendo que com músicas e em clipes, mostrando uma vida real ou fictícia (acredito mais na segunda opção) onde eles ganham muito dinheiro com as músicas que fazem e o gastam com bebidas, lugares e mulheres caros, tudo caro, porque pra ostentar tem que ser caro, esse é o lema não só desse estilo de música, mas de qualquer artista que faça trabalhos em cima desse tema. Porque essa gente se preocuparia com "Alexander" se eles fazem o mesmo que ele? Estranho...;
- Os "Reis dos Camarotes" propriamente ditos, gente que chegou nos últimos andares do capitalismo e pode torrar dinheiro como se fosse papel barato, porque sabem que há mais de onde aquele veio e a receita continua boa. Mas isso é problema nosso? Olhando do ponto de vista marxista podemos dizer que sim, mas para isso teríamos que dizer que todos os exemplos anteriores também o são, mas como não é o caso, sigamos adiante;
- Políticos.

O que essa galera gasta com esse "extra", fruto de crimes, claro, não está escrito! Eles com toda certeza gastam muito mais que os "Reis dos Camarotes" espalhados por aí (que a propósito são extremamente comuns, mas só se incomodaram com o tal "Alexander" porque, além de ter sido veiculado pela VEJA, uma revista com grande visibilidade, mostrou, com qualidade profissional, uma coisa que muita gente gostaria de fazer, mas não pode!). Não é difícil saber dos excessos de nossos políticos, e não precisa ser com festas e baladas, não importa com o que eles estão gastando o nosso dinheiro, se for do interesse pessoal deles e da laia deles e não for para o benefício dos brasileiros (afinal, dinheiro roubado em esquemas de corrupção nunca seria usado para fins benéficos!), já é um absurdo! Motivo de briga, de manifestação, revolução, se brincar, de uma guerra civil!
Há quem diga que, apesar dessa comoção com o "Rei do Camarote", as atenções dos brasileiros não foram desviadas da corrupção e dos políticos que esbanjam e ostentam com dinheiro público, mas se isso fosse mesmo verdade, o número de brasileiros nas ruas seria muito maior e em muito mais cidades do que atualmente. Odeio dizer isso, mas a maior prova de que o grosso dos brasileiros é composto por pessoa hipócritas é o de que fizeram uma verdadeira revolução pelas passagens de ônibus pelo Brasil todo e, apesar de muitos terem reivindicado melhorias nos transportes e assuntos similares, fim da corrupção e outras melhorias no serviço público, quando os preços das passagens baixaram, ou se fixaram novamente, as manifestações cessaram. Sei que muitas ainda acontecem, mas vamos comparar o número de cidades de antes e de agora em que elas ocorrem, agora comparemos o número de pessoas presentes, por fim, as causas pelas quais elas estão sendo feitas.
Por essas e outras costumo acreditar que "o gigante" nunca acordou de fato.
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