Não é de hoje que eu ouço essa expressão do título, claro, até porque vivo em uma sociedade católica, mais que isso, nasci em uma família religiosa: de um lado católicos, do outro, protestantes. "Se Deus quiser" é algo que aparece com frequência no meu dia a dia, mas não é apenas sobre isso que quero vos escrever. O assunto vai além, muito além.
Vou citar uma situação pessoal para que possam entender: ultimamente tenho passado por umas dificuldades pessoais, isso somado às minhas obrigações acadêmicas me deu uma bela dor de cabeça e cheguei a pensar que entraria em depressão ou algo do gênero. A coisa ficou feia mesmo. O problema é que atrelei tal situação a ditos comuns e populares que ouvimos com frequência, como "Se Deus quiser" ou "Entregue nas mãos de Deus" (o pior, ao meu ver). Por quê?
Bom, levemos em conta que eu esteja passando por uns problemas no aspecto emocional, tenha provas para as quais estudar, trabalhos e atividades (individuais ou não) para fazer. Em algum momento alguém pode vir até mim e dizer para eu "entregar nas mãos de Deus" e "deixar que Ele opere na minha vida". Vamos supôr que isso aconteceu, porque mesmo que não aconteça, o fim é o mesmo, muito embora a existência dessa expressão seja um agravante da coisa toda.

Situação 2 - Não estudo e não me dedico. Tiro notas baixas, vou para recuperação devendo nota e trabalhos e, para completar, ainda tenho que fazer uma visita à coordenação para pedir uma "ajudinha". Como se não bastasse, meus problemas me superam e eu saio numa pior. Resultado: a culpa é minha, afinal eu não estudei, não me dediquei e não soube lidar com a situação. Em última instância, foi o "inimigo" (ou diabo, satanás, ou o nome que você preferir) agindo na minha vida.
É aqui que entra a minha pergunta: por acaso vivemos em uma grande farsa onde somos meras marionetes de uma batalha cósmica eterna entre uma entidade chamada "Deus" e outra chamada "Diabo"? O livre arbítrio, liberdade experiencial e tudo mais que nos permite uma vida só nossa não existem e tudo que fazemos e sofremos são resultados da influência dessas duas entidades?

No final das contas, para essas pessoas, as vidas delas não pertencem a elas e sim a entidades, supostamente, benignas e malignas, que a qualquer momento podem fazê-las se dar bem ou mal, como se estivessem jogando uma versão cósmica de "The Sims". Se a coisa acabasse aí, tudo bem, mas não acaba. Elas estendem essa compreensão às pessoas que as cercam de modo a minar todo e qualquer esforço realizado por elas.
Eu contrato arquitetos, engenheiros, pedreiros e toda uma galera para construir uma casa para mim. Ao final da construção, inspeciono tudo e, se satisfeito com o produto final, dou graças a Deus na frente de todos, que foi graças a Ele que consegui aquela casa, jogando por água abaixo todos os esforços realizados por aquele pessoal. Se por outro lado eu não tivesse gostado de algo, eu os culparia pela incompetência deles e ficaria por isso mesmo.
Acredito que todas essas linhas foram mais que o suficientes para que entendessem meu ponto. Acredito em Deus, mas não sob essa perspectiva. Se você acredita, observe um pouco seu discurso, você pode estar deixando alguém que batalhou por algo muito triste, ou com muita raiva. Principalmente quando este não pensa da mesma forma como você.
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