Saber viver. Saber morrer.

Você nasceu, cresceu, foi instruído em alguma escola, educado em casa, e na escola também, virou adolescente, adulto e, esse tempo todo, ficou se perguntando o que fazer quando crescer, o que fazer enquanto adolescente, enquanto adulto. Que profissão seguir, como proceder na vida, com quem casar, quantos filhos ter, como educá-los, como envelhecer. Mas já parou para se perguntar se em algum momento lhe instruíram sobre como lidar com a morte, seja ela prematura, seja ela na velhice?

Todos nós sabemos viver. Via de regra isso deveria ser um consenso, não importa se você gosta de fumar, beber, comer verduras, fazer exercícios, de café, de purê, de livros, desenhos, futebol etc.. No quesito "saber viver" todos temos uma base sólida de conhecimento, como fazê-lo é algo que decidimos no decorrer da vida por influências diversas. Aqueles que seguem alguma religião ou via espiritual tem uma visão um pouco diferente do que é viver e o fará com base naquilo.

No entanto, creio que poucos pararam para pensar em como lidar com a morte. Somos ensinados que se seguirmos determinado padrão de comportamento saudável, viveremos mais. Lhes pergunto: para quê? Com que finalidade você quer viver mais se ao final da vida, quando estiver idoso, não poderá fazer metade das ações físicas que é capaz enquanto jovem ou adulto? O trecho "viver mais" é mal colocado, muito embora muitos caiam nele, creio que o correto seria: "(...) viver para sempre", visto que é nisso que todos acreditam.

Quando não acreditam, bem, preferem evitar o assunto da morte. Se esquecem que a violência está à nossa porta e pode cair sobre nós a qualquer momento. Ou que podemos cair vítimas de um acidente. Quando não somos nós, são os outros. Nessas horas procuramos um culpado, afinal a morte é algo anti-natural!

Essa é, com toda certeza, uma das coisas mais absurdas que se pode pensar sobre a morte! Se a morte faz parte da vida, é o final do ciclo desta, porque ela não é natural? Cedo ou tarde morreremos. E por falar nisso, o que é morrer de velhice?

Durante toda nossa vida ouvimos coisas como as que já citei e outas mais, mas após estas não nos dizem o que vem depois. Uma morte saudável? O que é isso? É muito confortável ver a morte de forma bem humorada ou poética e não dar uma explicação sobre esta. Significa que quando alguém morre entre os 60 e os 100 anos de alguma doença degenerativa, esta pessoa morreu "de velhice"(?).

Essa é uma afirmação bastante perturbadora! Pense que tudo aquilo do qual você tenta fugir, com hábitos saudáveis, irá te pegar cedo ou tarde na terceira idade e que dali a um tempo você perecerá vítima daquilo. Mas isso é morrer de doença. Espere! Mas você se preparou para evitar isso, então como aconteceu?

A outra coisa importante de se pensar nesse assunto é na morte prematura. Quando é dos outros, acontece; quando é de gente que conhecemos, é ruim; quando é de amigos ou parentes, é terrível, um crime! Crime? Por quê? Tendemos a buscar culpados pelas moléstias que nos acometem e a morte está entre elas. Quando não há culpados aparentes, culpamos entidades cósmicas, ou dizemos que este foi um querer deles. Fazer o quê?

Repito: a morte faz parte da vida. Se não morrermos agora em decorrência de uma fatalidade, morreremos mais tarde em decorrência de alguma doença que já pode estar crescendo dentro de nós ou que começará a crescer daqui a algumas décadas, dependendo de sua idade.

A morte é uma das coisas certas na vida. Não importa em que entidade divina você acredita, para que time torce, que comidas ingere, se anda descalço ou não, a morte virá. Pode ser hoje, enquanto dormimos, pode ser daqui a décadas.

Mesmo pessoas que acreditam em algo concreto após a morte, vide os religiosos e espirituosos, a temem. Não todos, claro. Alguns tem uma visão muito própria da morte para temê-la, podem temer a forma como morrerão, mas não temerão a dita cuja, visto que estão prontos para enfrentá-la e já tem uma visão parcial do que encontrarão do outro lado.

Você teme a morte? Estar preparado para morrer em um assassinato, acidente e coisas do tipo é diferente de esperar morrer enquanto dorme, em decorrência de fatalidades nas funções vitais ou alguma doença, no presente ou futuro. Esse é o próximo e, creio, o mais difícil da educação para a morte.

Deveríamos ser ensinados sobre a morte, não por uma perspectiva espiritual, mas natural, pois é isto que ela é. Faz parte da vida.