Este ano marca uma nova fase em minha vida, desde pensamentos e palavras rascunhando o que estou fazendo ao começo da realização da coisa que é o curso que estou cursando - Psicologia - fora o fato de estar namorando - e isso reacendeu a minha gana pela leitura. Já faz muito tempo que gosto de ler, mas a quantidade de livros por ano que eu devorava simplesmente caiu e muito, mas agora novas possibilidades surgem e quero aproveitar para externar aqui, no Elevado a Zero!, minhas observações, opiniões e críticas a livros que eu venha a ler. No espaço de menos de um mês, da última semana de Junho à segunda semana de Julho, li três e pretendo ler mais, como já estou fazendo. Quero deixar claro que estas análises, pessoais, não são sinopses, então fiquem avisados sobre coisas que revelarei, possivelmente, do início, meio e fim da obra.
Indo direto ao ponto: 1984 foi um livro que me chocou, não vou negar, fazia tempo que não lia algo do gênero e um dos motivos para eu começar estas análises por ele é, além do fato citado, ser um clássico da literatura internacional, escrito por um homem que não tenho medo de chamar de visionário e além do próprio tempo. George Orwell publicou o livro na década de 50, contando uma história fictícia que ocorre em 84, mas com características que, retirando os excessos do livro, de fato aconteceram e acontecem ainda hoje.
Além de ser uma dura crítica ao socialismo, 1984 é um livro que tem por intuito nos advertir de coisas que estão começando a engatinhar, naquela época, e que nos dias de hoje são praticadas sem que bilhões de pessoas sequer saibam como a coisa ocorre ou acontece. Ele é dividido em três partes bem distintas que eu chamaria de, respectivamente, "monótona", "interessante" e "assustadora/chocante". Vou explicar porque.

No início parece tudo "normal" para o cenário do livro, até que você se dá conta de como a coisa é deturpada: o governo não passa de uma ditadura! O Grande Irmão nunca foi visto em pessoa, apenas fotos espalham sua palavra e a do Partido que é algo como "estamos de olho em você", em todas as casas dos membros existe um aparato chamado "teletela" que é como uma TV, sendo que ela transmite músicas de mau gosto a favor do partido, vídeos de encorajamento do partido, treinos matinais do partido (todos tem que acordar na mesma hora e fazer os exercícios ordenados) e coisas do tipo. Como se isso já não fosse ruim o suficiente, cada teletela tem um microfone e uma câmera, ou seja, todos os membros são vigiados enquanto estiverem no alcance da visão dela e mesmo quando não estão, há microfones espalhados por toda cidade e isso inclui das casas dos "membros", que são vigiados dia e noite, onde quer que vão, seja lá o que estiverem fazendo.


A sociedade na Oceânia é bem desigual, temos a parte mais baixa, chamada de "proletas", ou proletariados, a camada mais baixa da sociedade, vivendo em favelas que são constantemente alvo de mísseis das nações inimigas (a Oceãnia vive em guerra com uma das outras duas e aliada da outra, mas costuma trocar de tempos em tempos) e são considerados animais pelo Partido, temos os membros do Partido, ou Partido Externo, que é a camada da qual Wilson faz parte, são aqueles que, como foi dito anteriormente, são constantemente ludibriados pelo partido, fazendo-os acreditar em fatos que nunca existiram, e, por fim, o Núcleo do Partido, pessoas que fazem o papel de mentirosos que acreditam na própria mentira e espalham isso como voz de ordem para todos os demais. Eles desfrutam de privilégios que nenhuma outra camada da sociedade possui, como, por exemplo, melhores alimentos, quantidades maiores destes alimentos, casas maiores e empregados, além de poderem trabalhar em casa.
Eis outro detalhe que não citei: tudo que diz respeito aos membros externos do partido é escasso, eles usam as roupas, comida e utensílios que o Partido dispõe e essas coisas estão sempre em escassez, mas eles são forçados a acreditar que está tudo bem, ou melhor, que aquilo é excelente e é uma conquista do Partido!

Seus encontros começam a ter uma certa frequência após um tempo de encontros esporádicos, eles sabem que não podem ficar se encontrando com frequência em um mesmo lugar, mas mesmo assim cometem esse pecado, mesmo sabendo que podem ser descobertos mais cedo ou mais tarde e mortos por isso. Wilson aluga um quarto com velharias em um antiquário que ele costuma ir e eles passam a se encontrar lá com maior frequência, seja para fazer amor, seja para desfrutar das comidas que Júlia, a garota de cabelo preto, consegue no mercado negro, alimentos que somente o Núcleo do Partido conseguem, que são o que os demais membros consomem, mas de qualidade e quantidade superior.
Essa parte se resume basicamente a isso e, como vocês devem estar imaginando, eles são de fato pegos e presos. O dono do antiquário se revelou na realidade um agente da Polícia de Ideias, desde sempre, e Wilson tomou conhecimento de que estiveram sendo observados por um bom tempo.
Devo admitir que nessa parte comecei a achar que, mais adiante, iria haver uma reviravolta, que eles iriam se libertar, ou pelo menos ele, que o Partido cairia e tudo mais, mas eis que vieram as surpresas...

Nesta parte tomamos conhecimento que o desejo de domínio e poder do Partido é insano, simplesmente, eles querem o poder pelo poder, apenas pelo prazer de possuí-lo e subjugar tantas quantas pessoas puderem, transformando-as em massa de manobra, sempre dando o mínimo possível para elas, apenas o suficiente para sobreviverem e acharem que vivem bem, dominando até mesmo suas formas de pensar e falar. Por isso a Novafala foi criada, porque ela abole diversas palavras que podem fazer uma pessoa pensar coisas mais complexas que o trabalho mecânico que realizam.
No final das contas Wilson implora para ser morto várias e várias vezes, mas isso só acontece quando sua vontade é completamente dobrada por um membro do Núcleo do Partido, O'Brien, que o tortura por meses a fio até o momento em que ele não consegue mais pensar por si e sim com o Partido e pelo Partido. Seu torturador é bem claro: eles só iriam matá-lo depois que ele se convertesse de coração e alma para o Partido e reconhecesse a culpa que tinha. Ao final, quando a Oceânia vence a guerra contra um dos outros blocos, ele perde o restante de personalidade que tinha, confessa crimes que cometeu e não cometeu, delata pessoas que não conhecia, tudo em praça pública, é tratado como inimigo e recebe a sua tão esperada bala na nuca, quando volta para o prédio do Partido.
A realidade e fatos que permeiam o livro são brutais e, como se isso não bastasse, o final, composto por boa parte da Parte 3 em diante, é chocante. Foi para mim porque, como disse, não esperava por um "final ruim", nem por um "final feliz", mas por algo "neutro", mas que não fosse ruim, e, para contrariar todas as minhas expectativas, o final é repleto de dor e brutalidade. Mas foi bom saber, sempre quis ler este livro e finalmente consegui, agora entendo porque ele é referência para filmes e livros da linha Cyberpunk.
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