Como foi dito por meu colega Roberto Noir em seu blog Chatêau Noir, o aumento da passagem de R$ 2,20 para R$ 2,40 em nossa pequena capital Potiguar causou um verdadeiro alvoroço por parte de um grupo de alguns milhares de pessoas, tanto virtualmente, quanto físicamente. Foram três protestos em dias diferentes com o intuito de diminuir as passagens, gente pulou a roleta dos ônibus, alguns foram pichados, houve confronto com a tropa de choque, típico dos tempos em que povo brasileiro ia à luta por seus direitos.
Como resultado, os vereadores de Natal resolveram votar pela diminuição, ou não, da passagem para seu valor antigo, R$ 2,20, e a maioria venceu. A passagem diminuiu e a galera comemorou. Em resposta os empresários das empresas de ônibus diminuiram a frota de ônibus, que já não é grande coisa em algumas linhas daqui, e cancelaram a integração, que permitia um passageiro passar sem pagar caso ficasse até uma hora na parada. Desnecessário dizer que o povo se inflamou com isso e foi às ruas novamente em novos protestos.
Quero deixar claro uma coisa nesse ponto: a mídia diz em todos os cantos que essa foi uma revolta de "estudantes", mas todos que dependem de ônibus em Natal saem prejudicados com aumentos de passagens, corte de frotas e cancelamentos de direitos dos populares. O fato é que dentre esses novos protestos, já havia gente mal intencionada no meio do povo e com estes houve a depredação de dois ônibus (me disseram que foram três, mas alguns afirmam que foram dois) no qual os mesmos foram queimados com coquetéis molotov.

Como resposta, os empresários cortaram o circular da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte) e reduziram ainda mais as frotas. Deve-se levar em consideração que três linhas, se não me engano, de Natal estão paradas, uma delas fundamental para os universitários federais, pois uma das empresas de ônibus faliu e nenhuma das outra tomou para si o trabalho de reativá-las.
Nesse meio tempo, antes do último protesto, no qual ônibus foram queimados, um processo do Ministério Público sobre a SETURN (Sindicato das Empresas de Transporte Urbano de Passageiros do Município de Natal) já estava acontecendo no qual este deveria reativar a Integração e as frotas deveriam voltar ao normal, além de pagar uma multa de, se não me engano, R$ 100 mil como indenização. Dias antes a prefeitura havia ameaçadoa SETURN pelo mesmo motivo. No final das contas foi ponto para o povo, a #RevoltadoBusão funcionou melhor do que o #ForaMicarla, que não saiu do papel porque os manifestantes foram enganados por um dos vereadores da câmara, como já havia dito em uma postagem mais antiga deste mesmo blog.
Mas vamos a algumas considerações: esses dias estive conversando sobre o assunto com uma pessoa e ele de fato apoiava a depredação dos ônibus, como ocorreu em Teresina a um ano atrás, quando cerca de trinta de ônibus foram queimados e mesmo assim, pelo que li, ainda houve um aumento no preço das passagens. Parece óbvio, não? Convenhamos que os ônibus queimados, principalmente os daqui, forma de linhas que os manifestantes não costumavam usar, mas ainda assim um deles pertencia a uma linha que vivia lotada, ou seja, quem queria ir para casa ou dependia desse ônibus no dia seguinte se ferrou! Já tinham que depender de um ônibus que podia chegar atrasado, pois o nosso serviço de transporte público por vezes se atrasa, principalmente nas linhas da periferia, agora foi que o bicho pegou mesmo!
Entendo perfeitamente que os caras tenham que cumprir os horários deles, afinal também temos os nossos para ir trabalhar, mas com ônibus a menos por meio de depredação, em uma manifestação que não envolve os empregados e empresários que são afetados pela queima de ônibus, todos saem perdendo e sem pedir por aquilo. Se uma empresa de ônibus não aumentou a linha a ponto de cobrir os atrasos, ela não vai cobrir tão cedo um ou dois (ou mais!) ônibus queimados, da noite para o dia! Quem acha que pode ou deve, precisa fazer um exame de consciência ou crescer um pouco mais mentalmente!
Para completar, numa situação como essa, na qual o que se exige é um melhor serviço de transporte público, redução de passagens e similares, depredar ônibus é um ato desesperado, impensado, infantil e completamente danoso para o povo que exige a melhora dos mesmos. Defendo os protestos sim, mas que sejam feitos de forma inteligente. Soube que em um desses protestos chegaram a jogar garrafas e pedras nos ônibus que passavam ainda com passageiros! Descontrole ou caso isolado? Sempre há os casos isolados, mas não podemos confundir as coisas!
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Ônibus é queimado na Zona Norte de Natal, um caso isolado. |
A forma inteligente como sugiro é que não somente seja feito nas ruas, mas numa posição mais sutil, seja procurando a ajuda de empresários que se compadeçam com a situação, seja com políticos de fora, já que os daqui apoiam pouco a população (essa votação na câmara foi mais para angariar votos, porque todos já estavam queimados na opinião pública dos mais informados), ou até mesmo recorrer à justiça e Ministério Público, alguém os notificou e a coisa foi feita, bem antes de pensarem em queimar ônibus! Se a justiça tivesse sido procurada, ela também teria conseguido algo, afinal a SETURN estava agindo em desconformidade com a lei imposta às empresas de transporte pública há muito tempo, do aumento das passagens de anos para cá às reduções de frotas e cancelamentos de direito. Justiça neles seria mais efetivo que centenas ou milhares de natalenses afetados pela destruição dos poucos ônibus que dispõem para ir trabalhar e trazer sustento para suas famílias.
Se algo do tipo for feito, que seja com ao apoio de um número maior de pessoas e classes: estudantes, trabalhadores, desempregados, empresários e políticos. Soube que na Europa, se não me engano em uma cidade da França, resolveram fazer um protesto no qual ninguém foi trabalhar, a cidade ficou parada por um dia e foi completamente eficaz, além de muito inteligente. Dizer que isso não funcionaria por aqui é admitir a falta de coragem para tentar.
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